PORTO VELHO [ ABN NEWS ] — A cafeicultura brasileira é considerada uma das mais modernas do mundo. No Brasil, maior produtor e exportador de café mundial e segundo maior consumidor da bebida, a atividade tem contribuído social e economicamente para o desenvolvimento do País, gerando emprego e renda. Para que o produto tenha valor agregado no mercado, é imprescindível investir na melhoria da qualidade. Um conjunto de tecnologias de pós-colheita desenvolvido no âmbito do Consórcio Pesquisa Café, de baixo custo e voltado para a agricultura familiar, constitui infraestrutura mínima para produção de café com qualidade.
Com o objetivo de incentivar a aplicação dessas técnicas em prol da qualidade do café e promover a sustentabilidade do processo de produção, Embrapa Café, Embrapa Rondônia, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper, Universidade Federal de Viçosa – UFV e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Epamig vão realizar juntas, nos dias 25 e 26 de outubro, o “Treinamento para melhoria da qualidade do café em Rondônia”.
O evento, voltado para produtores, técnicos, líderes rurais e profissionais da cafeicultura, irá abordar tecnologias de colheita e pós colheita adaptadas à agricultura familiar, bem como o Protocolo de Degustação Robustas Finos, e será realizado no Campo Experimental da Embrapa Rondônia em Ouro Preto do Oeste (a 330 quilômetros de Porto Velho).
“Rondônia é o segundo produtor de café conilon do Brasil, o que coloca a cafeicultura da região como atividade de grande importância econômica e social para o estado. Assim a capacitação desse público irá acrescentar informações importantes também para a melhoria da qualidade”, informa Jamilsen Santos, economista da Embrapa Café.
Tecnologias de pós-colheita – No primeiro dia do treinamento, serão abordados por técnicos das instituições parceiras temas como tecnologias de colheita e pós colheita adaptadas à agricultura familiar (por Juarez Sousa e Silva, da UFV) e reutilização da água residuária no processamento do café, aproveitamento agrícola e aspectos legais (por Sérgio Donzelles, da Epamig). Nesse dia, haverá ainda demonstrações sobre o processamento via úmida e o reúso de água com emprego do Sistema de Limpeza de Água Residuária – SLAR, tecnologias de secagem do café arábica e também levantamento de demandas tecnológicas.
No Brasil, a colheita do café normalmente é feita de uma só vez, derriçando-se todos os frutos produzidos pela planta. Quando a derriça é feita na peneira, além dos grãos, são recolhidos também folhas e ramos. Na derriça feita no chão, torrões e pedras são recolhidos junto com os frutos. A retirada das impurezas e a formação de lotes de café com potencial de originar bebida de melhor qualidade são feitas na pós-colheita. “São máquinas para abanação e lavagem, estruturas para reúso da água no processamento para secagem do café, fundamentais para a manutenção da qualidade do produto após a colheita, além da condução correta da lavoura. Os processos de preparo, secagem e armazenagem são fundamentais para a manutenção da qualidade do produto após a colheita, sendo importantes na escolha correta da infraestrutura para atender à fase final da produção do café”, garante o professor Juarez.
O processamento dos frutos do cafeeiro possibilita obter o café cereja descascado, produto com valor diferenciado no mercado. Como esse processo consome muita água e gera água residuária, busca-se a reutilização da água no processamento como opção para reduzir esse gasto. O Sistema de Limpeza de Águas Residuárias é um conjunto de baixo custo e de fácil construção que pode ser produzido pelo pequeno produtor. Sua função é remover os resíduos sólidos na água proveniente do processamento de frutos, viabilizando a reutilização da mesma e reduzindo o gasto de água em até 90%. “É constituído por caixas de decantação interligadas e peneiras estáticas. Após a remoção dos resíduos sólidos, a água é novamente conduzida para a caixa de abastecimento, para reutilização no processamento, ou direcionada à fertirrigação da cultura. Os resíduos sólidos retirados poderão ser utilizados na produção de adubos orgânicos”, explica o pesquisador Sammy Fernandes, da Embrapa Café.
Segundo os especialistas, além de facilitar e melhorar a pós-colheita, essas alternativas contribuem para reduzir as fontes de contaminação, valorizar a mão de obra, atender às exigências socioambientais e gerenciar as operações posteriores como transporte, separação e beneficiamento, incrementando a qualidade do produto. Os equipamentos demonstrados no treinamento são adequados para construir uma infraestrutura mínima para produção de café com qualidade a um custo baixo e com alta produtividade para competir com grandes produtores.
Protocolo de Degustação Robustas Finos – No segundo dia do evento, o degustador da Conilon Brasil Arthur Fiorotti vai abordar temas como o protocolo de degustação de robustas – que é um padrão internacional de classificação da qualidade do café – sistema de pontuação e pós colheita e qualidade do café.
Já os atributos de sabor específicos levam a pontuações positivas da qualidade, refletindo o julgamento do degustador, os defeitos levam a pontuações negativas, denotando sensações desagradáveis de sabor. O conjunto também se baseia na experiência de sabor de cada degustador, como avaliação pessoal. Mais informações no site do Conilon Brasil.
Cafeicultura em Rondônia – O Estado é o sexto maior produtor de café do País e ocupa a segunda posição nacional em cultivo de conilon. O café é a cultura perene mais difundida, compondo uma das principais fontes de renda de inúmeras famílias da zona rural. De modo geral, o cultivo do café robusta em Rondônia é feito em pequenas áreas, com baixo nível tecnológico e grande aproveitamento de mão de obra familiar. Cerca de 90% da área cafeeira é plantada com a espécie robusta, sendo a cultivar conilon utilizada em aproximadamente 95 % das propriedades.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, cerca de 40 mil pequenas propriedades do Estado produzem o café conilon. A safra cafeeira do estado em 2012 é estimada em 1.421,3 mil sacas. A produtividade média dos cafezais no Estado de Rondônia é baixa (10,89 sc/ha nesta safra e 9,31 sc/ha na safra anterior), devido a fatores como sistema de cultivo pouco racional, práticas inadequadas, elevados custos de insumos e mão-de-obra, baixa fertilidade dos solos, indisponibilidade de crédito, veranicos, cafezais decadentes, entre outros. Linhas de pesquisa realizadas em parceria com o Consórcio Pesquisa Café aliadas a ações de transferência de tecnologia vêm buscando alternativas que gerem desenvolvimento das lavouras com sustentabilidade.
Consórcio Pesquisa Café – O Brasil desenvolve o maior programa mundial de pesquisas em café, o Programa Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. Essa rede integrada de pesquisa é possível graças ao Consórcio Pesquisa Café, que reúne dezenas de instituições brasileiras de pesquisa, ensino e extensão estrategicamente localizadas nas principais regiões produtoras do País. Seu modelo de gestão incentiva a interação entre as instituições e a união de recursos humanos, físicos, financeiros e materiais, que permitem elaborar projetos inovadores. A evolução da cafeicultura brasileira, ao longo dos últimos anos, comprova a importância dos trabalhos de pesquisa.
Esse arranjo institucional atua em todos os segmentos da cadeia produtiva, tendo por base a sustentabilidade, a qualidade, a produtividade, a preservação ambiental, o desenvolvimento e o incentivo a pequenos e grandes produtores. Hoje reúne mais de 700 pesquisadores de cerca de 40 instituições, envolvidos em 74 projetos dos quais fazem parte 355 Planos de ação.
Foi criado por iniciativa de dez instituições ligadas à pesquisa e ao café: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Epamig, Instituto Agronômico – IAC, Instituto Agronômico do Paraná – Iapar, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro – Pesagro-Rio, Universidade Federal de Lavras – Ufla e Universidade Federal de Viçosa – UFV.
As pesquisas do Consórcio Pesquisa Café contam com o apoio e o financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa.
Serviço:
Inscrições para o evento podem ser feitas no Campo Experimental da Embrapa Rondônia em Ouro Preto do Oeste, na Av. Gonçalvez Dias – s/n°, telefone (69) 3461-3235.
Informações pelo número (69) 3225-9387.
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